quarta-feira, dezembro 27, 2006

Perguntas e respostas

Eu acho que há dois tipos de perguntas incómodas: aquelas às quais não queremos dar resposta ou aquelas que não sabemos responder. No segundo caso, existem alguns tipos de pseudo-respostas instantâneas, adaptáveis às mais diversas situações – é só abrir o pacote, misturar e sai uma resposta, mais ou menos atabalhoada, do tipo:

Os cálculos ainda não foram feitos… Essa é uma pergunta muita interessante e existe uma tese de 400 páginas que se debruça exactamente sobre esse tema… De momento não tenho presente, mas vou verificar…

Quem não quiser optar pelo mais simples e sincero Não sei! tem ainda uma outra opção. No ano de 1637 (assim reza a lenda), o Sr. Pierre de Fermat estava a ler o segundo volume da Arithmetica de Diophantus e, no seguimento do estudo do teorema de Pitágoras, fez uma descoberta que viria a intrigar os matemáticos durante os próximos 300 anos. O Príncipe dos Amadores enunciou um teorema segundo o qual a potência de um número só pode ser escrita como a soma de duas potências (todas elas com a mesma ordem) se a ordem das potências for igual a dois. Perante a necessidade de apresentar uma demonstração para esta afirmação tão arrojada, o Sr. Fermat garatujou apenas:

Cuius rei demonstrationem mirabilem sane detexi hanc marginis exiguitas non caperet.

Para aqueles que não lêem latim (o que é uma falha imperdoável!), uma tradução livre:

Eu tenho uma demonstração verdadeiramente maravilhosa para esta proposição, mas a margem deste livro é demasiado pequena.

domingo, dezembro 03, 2006

Elegia fúnebre

Mágica

É uma estrada no céu silenciosa
Um anão sem ninguém que o suspeite
É um braço pregado a uma rosa
Um mamilo escorrendo leite

São edénicos anjos expulsos
Sonhando quietude e distância
São homens marcados nos pulsos
É uma secreta elegância

São velhos demónios ociosos
Fitando o céu bailando ao vento
São gritos rápidos, nervosos
Que destroem todo o pensamento

É o frio deserto marinho
Operando na escuridão
É o corpo que geme sozinho
É a veia que é coração

São aranhas jovens, pernaltas
Arrastando embrulhos para o mar
São altas colunas tão altas
Que o chão ameaça estalar

São espadas voantes são vielas
Passeios de todos e nenhuns
São grandes rectas paralelas
São grandes silêncios comuns

É uma edição reduzida
Das aras da história sagrada
É a técnica mais proibida
Da mágica mais procurada

É uma estrada no céu silenciosa
Por um domingo extenso e plácido
É um anoitecer cor-de-rosa
Um ar inocente, ácido

in Manual de Prestidigitação, Mário Cesariny

sábado, dezembro 02, 2006

É um link de um blog secreto, caso contrário eu daria os devidos direitos de achamento*

"Encontrei" este blog de fotografia. Vale a pena ver.

* Provavelmente, das palavras mais feias da língua portuguesa.

Sobre o caso Richards

Não concordo nada com isto e estou absolutamente de acordo com isto. No primeiro, não percebo bem a tentativa de generalização ("Kramer perdeu a cabeça, como outras pessoas perdem a cabeça, por exemplo no trânsito") e não vejo desculpa possível ("Kramer quis aleijar, e levante-se o primeiro santo que nunca quis magoar"). Relativamente ao segundo, acho que o racismo (como qualquer outra tentativa de hierarquização social) é, apenas e só, uma ideologia - o conceito de instinto é uma confortável forma de desresponsabilização. Momentos de cólera, sobretudo tão desproporcionada como a de Michael Richards, devem fazer-nos pensar, mas, acima de tudo, devem fazer pensar o próprio Richards. E todos os Richards que reagem de forma semelhante, alegando, à posteriori, surpresa e consternação.

A mim, as imagens chocaram-me. Era uma fã incondicional de Kramer. Definitivamente, não de Michael Richards.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Bola de neve

Não só há pessoas que se dedicam a invenções absolutamente inúteis, como há quem escreva sobre pessoas que fazem invenções absolutamente inúteis e, mal dos males, há quem escreva posts sobre pessoas que escrevem sobre pessoas que fazem invenções absolutamente inúteis.

terça-feira, novembro 28, 2006

Caso pertença ao grupo de pessoas (restrito) que gostaria de ser um título de livro, continue a ler

Se eu fosse um título de livro, gostaria de ser um dos fabulosos títulos do António Lobo Antunes. E, se além de poder escolher o autor, pudesse escolher a obra, seria um destes três: Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura (2000), Que farei quando tudo arde (2001), Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo (2003).

segunda-feira, novembro 27, 2006

No dia da estreia, claro.




















E gostei. Gostei muito de termos um double 0 recém promovido, ainda sem bebida preferida, desajeitado e frio. Um grande James Bond - louro, é certo, mas ainda assim grandioso.

domingo, novembro 26, 2006

From London with love

Excluindo a comida e as dores nas pernas e nos pés (que, certamente, foram motivadas pelo facto de eu estar imbuída do espírito da maratona de Londres…), ficam apenas boas memórias. Memórias do Turner, do Dalí, dos quinhentos e qualquer coisa degraus para chegar ao topo da St. Paul’s Cathedral e da vista que de lá é possível apreciar, das múmias, das estátuas egípcias, gregas e romanas, das jóias da coroa, dos parques, do ranger da porta da casa do Sherlock Holmes e da agradável conversa com o Dr. Watson, da imponência da Trafalgar Square, do incontornável Big Ben, dos vitrais na Westminster Abbey, dos chás, das lojas em Covent Garden…

Aqui ficam algumas imagens desses quatro dias fantásticos:








quarta-feira, novembro 22, 2006

À la Fallaci

Grande entrevista, a de José Fialho Gouveia, esta semana no Sol. Entrevistado: José Saramago. Assunto: "Os livros não entram nesta entrevista".

Post muito atrasado mas ainda assim pleno de significado e pertinência - Concerto do Chico

Foi um concerto muito especial. Uma sensação estranha estar a vê-lo, ao vivo, quando já não pensava que fosse possível. Ouvi dizer que passou a gostar de dar concertos. Espero que isso signifique que volta mais vezes. Muitas.

domingo, novembro 05, 2006

I feel like a mouse and you act like a cat

Na minha modesta opinião, o exemplo é totalmente explicativo. Ainda assim, devo dizer que a minha opinião é enviesada - essa é simplesmente a minha música favorita (talvez a par com "Since I've Been Loving You"; confesso que tenho sempre algumas dúvidas nestas coisas de "a" música favorita).

Não querendo entrar nas polémicas sobre o aparecimento da dita música (nem sobre as várias versões), aqui está uma alternativa (com a vantagem, do meu ponto de vista, de o ramalhete estar mais composto, com o Robert Plant e com o John Bonham).

BD

Os meus conhecimentos de histórias aos quadradinhos não vão muito mais além dos clássicos Astérix e Tintim e da indispensável tira do Calvin and Hobbes no Público. De certa forma, a minha noção da BD ficou marcada por estas leituras, estando inextricavelmente ligada ao universo infantil, em especial ao nível das ilustrações.

Talvez por isso é que foi tão interessante e surpreendente ler BD para “gente crescida”. A minha estreia foi apadrinhada pelo C.A.O.S., no qual, de vinheta em vinheta, se sucedem cenas de acção e suspense, envoltas num clima de mistério. Contrariando a tendência, na minha opinião um pouco provinciana, de procurar unicamente fontes de inspiração além fronteiras, a acção deste livro desenrola-se num ambiente inspirado por episódios da história recente portuguesa, mas em que “qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência”.

Depois de ler os dois primeiros episódios fiquei com a sensação de que apenas foi levantada uma ponta do véu e estou particularmente curiosa sobre o que estará reservado para o Boris. Portanto, aqui fica um pedido: Srs. Autores apressem-se a publicar o terceiro episódio!

quarta-feira, novembro 01, 2006

Interrupção Voluntária da Gravidez

Há religiões que se opõe a transfusões de sangue e operações cirúrgicas, mesmo que para salvar uma vida. Quanto a isto queria dizer 3 (três) coisas:

Uma, é que nunca vi nenhuma mobilização social pelo facto de estes contribuintes pagarem as transfusões e operações dos restantes contribuintes, mesmo que os primeiros as considerem moralmente condenáveis.

Outra, e seguindo na linha da moralidade, esses primeiros contribuintes não procuram impor a sua moral aos outros (pelo menos não mais do que numa conversinha amena) - quem quer receber uma transfusão ou fazer uma operação poderá fazê-lo livremente. Os que as condenam moralmente, simplesmente não as fazem.

Por fim, caso hipoteticamente vivêssemos num país em que transfusões e operações fossem ilegais, e caso houvesse um referendo no sentido de alterar essa lei, todos os que não fossem votar perdiam toda e qualquer legitimidade. Fazê-lo duas vezes, então, devia dar cadeia.

segunda-feira, outubro 30, 2006

O Retrato do Artista Enquanto Jovem

Autor 1














Autor 2

terça-feira, outubro 17, 2006

Orgulhosamente só

Devo ser a única pessoa da minha geração que conhece isto, canta isto e acha isto incrívelmente familiar.


segunda-feira, outubro 16, 2006

"Sra. da Bilheteira, qual é o preço do meu bilhete?"

Aos Srs. Barricados que exigem que «o teatro não seja gerido e programado em função da maior ou menor rentabilidade» que estão neste momento dentro do Rivoli, a quaisquer outros Srs. Barricados que usem o mesmo tipo de argumentação e, por fim, a quaisquer outros Srs. Não Barricados mas ainda assim Srs. Que Usam o Mesmo Tipo de Argumentação:

Mas por que raio tem o teatro de ser subsidiado? O que leva os Srs. Barricados em geral que usam o tipo de argumentação supracitada e os Srs. Barricados no Rivoli em particular (e, claro, os Srs. Que Usam o Mesmo Tipo de Argumentação) a pensar que, do alto da sua cultura, têm a obrigação moral de obrigar o contribuinte a pagar as suas peças e, talvez pior, a assistir a essas mesmas peças? Se a peça não é rentável é porque o público não a quer ver ou não a valoriza ao ponto de pagar o preço do bilhete. Subsidiar o teatro mesmo que para descer os preços dos bilhetes é, no mínimo, um embuste - pode levar mais público (?) às ditas peças de "elevado interesse público" mas apenas enganando o pobre elemento do público que, informado à priori do verdadeiro custo do seu bilhete (valor pago pelo bilhete + subsídio atribuído à peça/nº de pessoas no público), rejeitaria imediatamente o projecto. Diria eu, se fosse actriz/produtora/encenadora/coreógrafa, que o meu trabalho era para o público. Não o vou dizer, porém, porque quis o destino que eu fosse economista* (e brilhante, diga-se).

* Já estou a ouvir os "aha!" dos Srs. Barricados em geral que usam o tipo de argumentação supracitada e os Srs. Barricados no Rivoli em particular (e, claro, os Srs. Que Usam o Mesmo Tipo de Argumentação). "Claro" - dizem em uníssono - "só podia".

sábado, outubro 14, 2006

Panaceia da pobreza

Quero deixar bem claro que esta minha demora em dar aval à atribuição do último Nobel da Paz não significa nada. O que não surpreende, diga-se; pronunciando-me ou não o significado vai ser o mesmo, leia-se, nenhum. Ainda assim muito me apraz dizer que difícilmente consigo pensar em escolha mais adequada. No fundo, o que este senhor fez (faz) é precisamente o meu conceito de apoio à pobreza: oportunidades em vez de pequenas caridades. Tenho dito.

O Senhor dos Anéis

As imagens recentemente recolhidas, no âmbito da missão Cassini-Huygens, mostram a existência de dois novos anéis à volta de Saturno.


Lei de Murphy

Apesar de tudo, continuo a achar que, mais cedo ou mais tarde, alguns pratos vão cair.

King: How is it that the clouds still hang on you?

Hamlet: Not so my Lord, I am too much i' th' sun.

Queen: Good Hamlet cast thy nightly colour off,
And let thine eye look like a friend on Denmark.
Do not for ever with thy vailed lids
Seek for thy noble father in the dust;
Thou know'st 'tis common, all that lives must die,
Passing through nature, to eternity.

Hamlet: Ay Madam, it is common.

Queen: If it be,
Why seems it so particular with thee?

in Hamlet, William Shakespeare

domingo, outubro 01, 2006

Moral nacional

Na sequência de qualquer acidente fora de portas, recebemos sempre a informação - fundamental, parece - do número de portugueses envolvidos ou, à falta de melhor, pessoas cujos sobrinhos são (ou foram, também dá) casados com pessoas que têm colegas de trabalho que conhecem pessoas que passaram férias em Portugal em Agosto de 82.

Nunca percebo o objectivo. É tornar mais triste a notícia? Devemos sentir-nos pior quando há portugueses envolvidos, tão anónimos para nós como todos os outros? A questão é apenas uma questão de fronteiras da moralidade, ou, melhor, da ausência dessas fronteiras. O que sentimos ao ouvir o relato de uma tragédia deve variar de país para país? Apenas podendo salvar um, que avião escolheríamos - um com dez portugueses ou um com dez neo-zelandeses? Um acidente em Badajoz deve causar-nos menos pesar do que um em Elvas?

Nem mais.

"As marquises são como os capachinhos"
MEC

quinta-feira, setembro 28, 2006

Não morremos hoje e casamos amanhã!

Nos primeiros tempos da modalidade, o início das corridas de motociclismo era bem diferente daquilo que é hoje. Como não era possível cronometrar os tempos de cada piloto com precisão e fiabilidade, não havia forma de estabelecer uma grelha de partida. A solução encontrada passava por haver um grupo de homenzinhos de capacete a correr de um lado a outro da pista com o objectivo de chegar o mais rapidamente possível à sua mota.

Actualmente, a precisão na medição do tempo chega ao milésimo de segundo. De facto, 0,001 segundos bastam para atribuir a pole position ou a vitória numa corrida. Contudo, um milésimo de segundo é uma eternidade quando comparado com o mais recente elemento da escala do tempo, o “attosegundo” (attosecond) – milionésimos de milionésimos de milionésimos de segundo, ou mais precisamente 10^-18 de segundo. De acordo com o artigo que estive a ler, um “attosegundo” está para o segundo como um segundo está para a idade do universo.

Já correm rumores que na ilha de Kronos o pânico está instalado. Os segundos suspiram a cada milésimo e sentem-se a perder forças. Os nanosegundos estão inconsoláveis, mortinhos de inveja por terem perdido todos os seus recordes. No entanto, o caso mais grave parece ser o da simultaneidade, que está desaparecida, sem dar notícias, desde… Até ao momento, fontes próximas da figura em causa não confirmam nem desmentem que ela se tenha tornado num mito.

Tempus fugit

quarta-feira, setembro 27, 2006

Joy to the fishes in the deep blue sea



"Joy to the world
All the boys and girls
Joy to the fishes in the deep blue sea
Joy to you and me"

quarta-feira, setembro 20, 2006

O perigo das amostras pequenas

Durante a minha primeira hora de almoço completa dos últimos quinze dias (hora, no sentido de 60 minutos, claro está) descobri uma inverosímel realidade: numa mesa de cinco pessoas, eu incluída, apenas uma (no caso, eu própria) sabia em que consistia a iguaria gastronómica raia de pitau. Ninguém sabia, ninguém tinha sequer ouvido falar - a palavra pitau soava a erro fonético da minha parte. Mas não, meus caros, como, de resto, poderão verificar aqui, aqui, ou mesmo aqui. Se ainda assim permanecerem com dúvidas por esclarecer, penso que as restantes 34 397 entradas do google poderão esclarecer-vos melhor.

sábado, setembro 16, 2006

sexta-feira, setembro 15, 2006

Controvérsias à parte, deu-nos algumas das mais brilhantes entrevistas com a história.

domingo, setembro 10, 2006


Peço desculpa, mas depois de US Open e Grande Prémio de Itália de F1 tinha de escrever qualquer coisa sobre a corrida de Sepang. É inevitável! Para quem não viu, o que eu posso dizer é que perdeu uma das melhores corridas dos últimos tempos. Claro que teve o desfecho que eu gostaria, mas ao dizer que foi uma corrida de tirar o fôlego não estou a ser parcial. Foi mesmo muitíssimo emocionante!
E a contagem decrescente continua! De -38 passámos para -26!!

Ainda sobre desporto

Mais tarde ou mais cedo teria de acontecer. É o fim de um ciclo, a lei da vida, o que quiserem chamar. Na minha opinião, já não era sem tempo... Apesar de lhe reconhecer muito mérito, o seu estilo nunca me cativou. Espero que a sua saída possa trazer mais emoção às corridas e que os resultados deixem de reflectir jogos de bastidores e preferências dentro das equipas.
Confesso que, apesar de ficar um pouco triste por não ter acontecido como esperava, não deixa de ser engraçada a forma como as certezas "quase" absolutas acabam por cair por terra.

Ainda assim, espero que seja a única surpresa face ao final largamente antecipado...

Regresso à infância

segunda-feira, setembro 04, 2006

Eusébio, modelos económicos e snooker

"Puxando o pé para trás e aproximando-o da coxa, Eusébio dava balanço. Num movimento de pêndulo, com impulsos bem coordenados, rematava no momento exacto em que a perna se esticava e atingia a velocidade mais alta. Orlando Fernandes, professor da Faculdade de Motricidade Humana (FMH), não tem dúvidas: «Naturalmente, o antigo goleador foi dos raros jogadores que seguia todas as leis básicas da biomecânica, aplicando a velocidade e potência máxima de remate que um corpo consegue atingir»."

Não consigo deixar de ler isto sem me lembrar de modelos económicos. Tudo porque, na faculdade, tive um professor que para nos convencer de que os agentes económicos, apesar de não maximizarem a sua utilidade sujeitos à sua restrição orçamental e outras coisas que tais, se comportavam como se o fizessem (ou perto disso) dava-nos o exemplo de jogadores de snooker (dos melhores do mundo) que, apesar de não conhecerem as leis da física e da mecânica (ou, mesmo conhecendo, não tendo capacidade de, em segundos, fazer todos os cálculos necessários) jogavam, quase sempre, a melhor jogada possível de acordo com essas mesmas leis.

Ora, parece-me que esse professor era precisamente do Benfica - poderá deixar de falar de snooker e passar a falar do Eusébio. A empatia com grande parte da audiência
será imediata.

sábado, setembro 02, 2006

Há coisas que arrepiam. Está uma pessoas descansada no sofá, a folhear a Única, quando se depara com "Um sonho de Menino" e vê o Jorge Gabriel, em tamanho A4, de chuteiras, equipamento azul e uma daquelas plaquinhas com o desenho de um campo de futebol - sim, Jorge Gabriel é treinador do Futebol Clube de Arouca. "Eegrre" - pensei. "Não me consigo ver num rival do Sporting. Irei lutar até ao máximo das forças para evitar isso". Ah bom, assim fico mais descansada. Eu e 5 999 999 portugueses.

sexta-feira, setembro 01, 2006

"O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, Portugeses, só vos faltam as qualidades"

in Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX por José de Almada-Negreiros Lisboa, Dezembro de 1917

quarta-feira, agosto 23, 2006

«"Pessoa é um dos meus escritores preferidos. Deitaram abaixo Salazar e agora têm um governo decente. O terramoto de Lisboa inspirou Voltaire a escrever Candide. E Portugal ajudou milhares de Judeus a fugirem da Europa durante a guerra. É um país bestial. Eu nunca lá estive, é claro, mas, queira ou não queira, é lá que eu vivo agora. Não, Portugal é perfeito. Do jeito que as coisas se têm passado nestes últimos dias, só podia ser Portugal."
"De que é que tu estás a falar, Sid?"
"É uma longa história. Eu depois conto."»

Paul Auster in A Noite do Oráculo

terça-feira, agosto 22, 2006











É preciso respirar bem fundo depois de acabar o livro - é o que faz a leitura ser simples: lemos de rompante sem digerirmos devidamente o que estamos a ler. Nunca tinha lido nada assim - é estranho, assustador, perturbante. É brilhante - mas de um brilho quase medo.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Difícilmente haverá desporto...












































































...com fotografias tão espectaculares!

terça-feira, agosto 15, 2006

Dependendo do seu grau de complexidade, os modelos (macro)económicos podem ter uma aparência pouco amigável. Porém, os mecanismos físicos, dada a sua tangibilidade, têm uma imponência que uns quantos rabiscos numa folha de papel, com letras gregas à mistura, nunca conseguirão ter. Na imagem ao lado, encontra-se o mecanismo criado por William Phillips, em 1949, para ilustrar o fluxo circular do rendimento. Se a análise estritamente mecânica daquilo que se passa na economia tivesse prevalecido, certamente seria típico encontrar economistas com as mangas arregaçadas e uma chave inglesa na mão, ajustando válvulas para avaliar o impacto de um aumento da taxa de imposto no rendimento.

sábado, agosto 05, 2006

Sou aquilo a que se chama um agente forward looking.

terça-feira, agosto 01, 2006

Já lá vai o tempo (dois anos, mais concretamente, Verão de Jogos Olímpicos) em que eu sabia exactamente o que era "empranchado" e "encarpado". Em que, orgulhosamente, dizia, dois segundos antes do locutor, o que tinha acabado de ver. Em que distinguia, depois de ter visto cerca de 50 mergulhos, o médio baixo do médio bom - e não apenas o desastroso do perfeito, como inicialmente. É, não devemos menosprezar o mergulho. E isto tudo para dizer que temos aí o Europeu de Budapeste - à falta de fotografias de mergulho (que só começou hoje) fica aqui a natação e a sincronizada.












segunda-feira, julho 31, 2006

Promessa

Situações difíceis requerem decisões difíceis. E a situação é muito delicada - 51 pontos de desvantagem a 6 corridas do final do campeonato. Por isso, apesar de não acreditar muito na possibilidade de influenciar acontecimentos à distância por esta via, decidi fazer, publicamente, uma promessa. Se, apesar de todas as dificuldades, Il dottore ganhar o campeonato, eu irei fazer uma aula de ginástica inteira com a minha camisola amarela fluorescente com o nº 46! Dadas as circunstâncias, não custa nada tentar...

domingo, julho 30, 2006

Navegar, navegar...


É nestas alturas que tenho uma vontade quase irreprimível de soltar as amarras, enfunar as velas e zarpar rumo ao desconhecido.

sexta-feira, julho 28, 2006

segunda-feira, julho 24, 2006

Ao folhear um prontuário de língua portuguesa descobri a secção "estrangeirismos a evitar". Achei logo mal. "a evitar" pareceu-me deveras presunçoso - se ainda fosse "estrangeirismos errados", acharia muito bem que alguém se levantasse em defesa da língua. Mas "a evitar"? Se a razão apresentada para tal lista negra fosse o facto dessas expressões serem feias, sim senhor, era uma iniciativa de louvar - eu própria pretendo escrever, logo que disponha do devido tempo, um pequeno rol de "palavras a evitar", acrescentando uma pequena mas esclarecedora nota de rodapé dizendo "porque são feias, soam mal ou têm mau aspecto escritas" - mas não. Diz-se, depois do título, que a razão é simplesmente a existência de sinónimos na língua portuguesa. Pois. Sinónimos, dizem. Senão vejamos:

slogan - eslógã
puzzle - pâzele
slot machine - caça-níqueis
cocktail - coquetel
jeans - jines
stand - estande

Perante isto*, também me pergunto - para quê usar estrangeirismos?

*dirá o leitor atento: "Não, não, isso não estava no prontuário". Ao que eu responderei "Está coberto de razão - à falta de prontuário neste instante, optei por isto".

domingo, julho 23, 2006

Notas prévias:
1. Se me dissessem que, de todas as pessoas do mundo, eu poderia conhecer uma - à minha escolha - não precisaria de 2 segundos para pensar. Teria resposta pronta.

2. Quando, há uns meses atrás, pensava nos atractivos de ir ao Brasil, havia uma razão que se sobrepunha a todas as outras - assistir a um concerto de Chico Buarque.

O impossível - porque é que alguém que detesta dar concertos, e o afirma publicamente tantas vezes quantas as entrevistas que dá (poucas, portanto), haveria de vir apresentar-nos o "Carioca"* - aconteceu. E lá estarei, no primeiríssimo dia em Lisboa, a assistir ao concerto que mais ansiava ver - o do génio.

*Um disco de originais, 8 anos depois, era quanto bastava para ter escrito este post. Um concerto em Portugal (seis, mais exactamente) deveria dar honras de Estado - Presidente da República eu fosse.

quarta-feira, junho 14, 2006

In a short story by Ian McEwan, "Reflections of a Kept Ape", a woman takes a pet chimpanzee as her lover. Although truth is often stranger than fiction, a study published this week by scientist in America demonstrates that both can be pretty odd. The research concludes that humans and chimpanzees interbred after the two species first separated, before eventuallygoing their different ways some 5.4 m years ago. Humans are thus much more recently related to their closest relatives than was previously thought. (in The Economist, May 20th-26th, 2006)

A ter algum fundamento, isto pode significar que todos aqueles que maltratam os chimpanzés, usando-os como cobaias em experiência cruéis ou condenando-os a uma pena de prisão perpétua, cumprida em circos ou outro tipo de espectáculos de rua, estão na prática a maltratar o seu tetra-tetra-tetra-...-tetra-avô. Infelizmente, não tenho a certeza de que esta nova perspectiva sobre a questão pudesse vir a fazer alguma diferença...

Inscrição

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar


Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, junho 13, 2006

domingo, junho 11, 2006

Deambulações por Madrid

Já que o guia turístico que consegui arranjar não é mais do que uma compilação de vários top tem (10 museus e galerias a não perder, os 10 melhores passeios e itinerários, os 10 melhores quadros no Prado, etc. …), aqui vai uma lista com 10 observações subjectivas acerca de Madrid:

1. Curiosamente, ainda antes de entrar em Madrid, a visão que se tem ao longe da cidade é uma imagem sufocante, confrangedora. Um vasto conjunto de edifícios entrecortado por espaços verdes encontra-se espalmado entre a planura seca da terra e um asfixiante nevoeiro avermelhado que paira no ar.

2. À primeira vista, circular de carro nas ruas pode parecer caótico, mas acaba por ser um desafio muito interessante. Segue em frente! Não posso, é sentido proibido! Vira à direita! Não dá, é uma rua só para peões! Vira à esquerda! Não se pode virar à esquerda… Enfim, quarenta e cinco minutos depois lá encontrámos o objectivo desejado (com alguma ajuda externa, é certo…).

3. Obras, obras e mais obras! A cidade está transformada num grande estaleiro, encontrando-se a cada esquina montes de areia e pilhas de tijolos. A renovação da rede de metro é responsável por uma boa parte desta gigantesca cirurgia que deixou, impudicamente, Madrid com as tripas à mostra.

4. Não sei se é uma consequência directa do atentado terrorista, ou se a convivência de longa data com a ETA já o exigia, mas em todas as ruas é bem visível um forte dispositivo policial, montado para vigiar todo e qualquer movimento suspeito. Da minha perspectiva, isto tem uma grande externalidade positiva – há sempre um polícia simpático pronto para explicar muito devagarinho qual é o caminho para um determinado sítio.

5. Passear a pé é muito agradável. Apesar das temperaturas elevadas, é possível percorrer grandes extensões sempre à sombra, ou de grandes árvores ou de enormes prédios, que ladeiam ruas estreitas. Para além disso, a estrutura labiríntica da parte mais antiga da cidade é propícia a inúmeras descobertas.

6. Ao contrário de Lisboa, Madrid é uma cidade com vida a todas as horas. As ruas estão sempre cheias de gente a deslizar de um lado para o outro. As esplanadas estão cheias até bem tarde e, surpreendentemente, os tocadores de acordeão funcionam como um atractivo; tocam bem e têm um repertório bastante variado, criando um ambiente animado ao seu redor.

7. Um ponto incontornável – os museus. Infelizmente, não houve tempo para ver o Prado. Porém, de tudo o que vi, a minha preferência recai sobre o museu Thyssen-Bornemisza, não só pela variedade como pela organização.

8. Quadro: Guernica. Imponente!

9. Ao nível arquitectónico, as ruas madrilenas também primam pela variedade. Existe uma enorme quantidade de edifícios, dos quais se destacam o do Banco de España e o Metrópolis, que são verdadeiras obras de arte.

10. Finalmente, a comida, que foi o calcanhar de Aquiles. Não é fácil comer em Madrid, mesmo com as tapas e os bocadillos. A única refeição que não se transformou num verdadeiro pesadelo foi o jantar num café/restaurante na Calle del Arenal, onde encontrámos um empregado português.

domingo, junho 04, 2006

Post a publicar a 9 de Julho às 16h45

Final - 9 de Julho 15h Berlim
Portugal 2 - 1 Brasil

3º lugar - 8 de Julho 16h Stuttgart
Itália 2 - 0 Argentina

terça-feira, maio 30, 2006

«Recordar não é de modo algum o mesmo que lembrar. Por exemplo, alguém pode lembrar-se muito bem de um acontecimento, até ao mais ínfimo pormenor, sem contudo dele ter propriamente recordação. A memória é apenas uma condição transitória. Por intermédio da memória o vivido apresenta-se à consagração da recordação. A diferença é reconhecível logo nas diferntes idades da vida. O ancião perde a memória, que aliás é a primeira capacidade a perder-se. Contudo, o ancião tem em si algo de poético; de acordo com a representação popular ele é profeta, é divinamente inspirado. A recordação é afinal afinal também a sua melhor força, a sua consolação: consola-o com esse alcance da visão poética.»

Kierkegaard, In Vino Veritas
Loge:

Was gleicht, Wotan,
wohl deinem Glücke?
Viel erwarb dir
des Ringes Gewinn;
das er nun die genommen,
nützt dir noch mehr:
deine Feinde - sieh -
fällen sich selbst
um das Gold, das du vergabst.

Quem é, Wotan,
mais afortunado do que tu?
Ganhaste muito
com a posse do anel,
mas ao ser-te tirado
ainda ganhaste mais.
Os teus inimigos - vê! -
Destroem-se a si próprios
para conquistar o ouro que lhes deste.

in Das Rheingold, Richard Wagner.

terça-feira, maio 23, 2006

O que é que ffi e @ têm em comum?

À primeira vista parece que nada, mas vim a descobrir que são a mesma coisa. Ou melhor, ambos são ligaturas, ou seja, junções de letras. Se no primeiro caso a junção se deve exclusivamente ao tipo de letra utilizado, no segundo parece que há uma longa história por detrás da contracção de «a» e «d». Para além de ser uma forma abreviada de escrever Anno Domini, ad é também uma preposição em latim, que significa «para», «em» ou «a». Agora até parece bastante lógica a escolha deste símbolo para os endereços de e-mail. O que me parece estranho é que, apesar das fortes raízes latinas do português, nós tenhamos baptizado este símbolo com o nome de «arroba», muito pouco intuitivo, com raízes no castelhano. Porquê complicar o que é simples?

domingo, março 12, 2006

Quase tão importantes como as obras acabadas, os rascunhos dos poemas mostram-nos a vida por detrás das magras linhas pretas, como comboios irregulares de formigas operárias, impressas na folha branca de papel.

Soube hoje que é possível encontrar no site da Biblioteca Nacional rascunhos de poemas de Alberto Caeiro tal qual vieram ao mundo, em formato digital.

Decididamente um site a explorar. Aqui fica um cheirinho.


"Never make forecasts, especially about the future."


Samuel Goldwyn

domingo, fevereiro 05, 2006

A racionalidade - dos agentes pode manifestar-se das mais diversas e variadas formas. E as escolhas que, à primeira vista, parecem inconsistentes, afinal não o são.

For the first time since the return of democracy in 1974, Portugal’s voters have chosen a centre-right president. (…) Yet less than a year ago, José Sócrates, the current prime minister, became the first Socialist to win an overall majority in parliament for his centre-left party. Why a switch from left to right within 12 months? The answer lies in the similarities between Mr. Sócrates and Mr. Cavaco Silva.
The Economist, January 28th – February 3r

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Cada um é para o que nasce

Descobri recentemente que o Chico Buarque sonha com músicas e letras de canções que ele nunca ouviu. Eu sonho com contas nacionais e exames de economia.

domingo, janeiro 29, 2006

quinta-feira, janeiro 26, 2006

É pena que vós não conheçais, vós estudantes, o supérfluo e o luxo em que viveis. Mas eu também era assim quando era estudante. Estuda-se, trabalha-se, não se é preguiçoso, julgamos poder dizer que somos diligentes, mas quase nem sentimos tudo o que poderíamos realizar, tudo quanto poderíamos fazer com esta liberdade. E de repente chega uma convocação do Directório, precisam de nós, dão-nos uma cadeira, uma missão, uma função, daí passa-se para um escalão mais elevado e vemo-nos presos inesperadamente numa rede de obrigações e deveres que, quanto mais nos agitamos, mais encolhe e se aperta. Em si mesmas são apenas tarefas pequenas, mas cada uma delas leva o seu tempo próprio a fazer, e as funções dum dia comportam mais tarefas do que horas. Está bem assim, não é preciso que seja de outra maneira. Mas quando, entre as sessões e as deslocações de serviço, nos lembramos por um momento da liberdade que possuíamos e perdemos, da faculdade de não trabalhar por ordem, de fazer vastos estudos sem limites, podemos muito bem ter um momento de lamento e imaginar que se a voltássemos a ter, saborearíamos até às borras as suas alegria e as suas possibilidades.

in O Jogo das Contas de Vidro, Hermann Hess

Todos os “profissionais do estudo” deviam ler isto com muita atenção. Eu julgo que, mais cedo ou mais tarde, todos acabamos por sentir saudades dos tão famosos “tempos de estudante”. Eu sinto isso agora… A juntar a esta saudade também sinto muita admiração por aqueles que não são de lamentos e resolvem, intrepidamente, voltar a estudar, acumulando com as “pequenas” tarefas rotineiras o prazer de navegar no oceano do conhecimento. E, certamente, vão valer a pena todos os esforços redobrados, pois a sua alma não é pequena!