terça-feira, maio 30, 2006

«Recordar não é de modo algum o mesmo que lembrar. Por exemplo, alguém pode lembrar-se muito bem de um acontecimento, até ao mais ínfimo pormenor, sem contudo dele ter propriamente recordação. A memória é apenas uma condição transitória. Por intermédio da memória o vivido apresenta-se à consagração da recordação. A diferença é reconhecível logo nas diferntes idades da vida. O ancião perde a memória, que aliás é a primeira capacidade a perder-se. Contudo, o ancião tem em si algo de poético; de acordo com a representação popular ele é profeta, é divinamente inspirado. A recordação é afinal afinal também a sua melhor força, a sua consolação: consola-o com esse alcance da visão poética.»

Kierkegaard, In Vino Veritas
Loge:

Was gleicht, Wotan,
wohl deinem Glücke?
Viel erwarb dir
des Ringes Gewinn;
das er nun die genommen,
nützt dir noch mehr:
deine Feinde - sieh -
fällen sich selbst
um das Gold, das du vergabst.

Quem é, Wotan,
mais afortunado do que tu?
Ganhaste muito
com a posse do anel,
mas ao ser-te tirado
ainda ganhaste mais.
Os teus inimigos - vê! -
Destroem-se a si próprios
para conquistar o ouro que lhes deste.

in Das Rheingold, Richard Wagner.

terça-feira, maio 23, 2006

O que é que ffi e @ têm em comum?

À primeira vista parece que nada, mas vim a descobrir que são a mesma coisa. Ou melhor, ambos são ligaturas, ou seja, junções de letras. Se no primeiro caso a junção se deve exclusivamente ao tipo de letra utilizado, no segundo parece que há uma longa história por detrás da contracção de «a» e «d». Para além de ser uma forma abreviada de escrever Anno Domini, ad é também uma preposição em latim, que significa «para», «em» ou «a». Agora até parece bastante lógica a escolha deste símbolo para os endereços de e-mail. O que me parece estranho é que, apesar das fortes raízes latinas do português, nós tenhamos baptizado este símbolo com o nome de «arroba», muito pouco intuitivo, com raízes no castelhano. Porquê complicar o que é simples?