domingo, março 18, 2007

Apocalipse in 5, 4, 3...

De acordo com o Bulletin of the Atomic Scientists’ Doomsday Clock (o relógio do Apocalipse) a humanidade está a cinco minutos do Dia do Juízo Final (representado pela meia-noite). Os membros desta organização (dita não lucrativa e dedicada à segurança, ciência e sobrevivência desde 1945) maioritariamente provenientes do meio académico, consideram que a humanidade se encaminha para a autodestruição, fruto da proliferação de armas nucleares, mas também das alterações climatéricas e de certos avanços científicos que provocam danos irreparáveis à vida no planeta.

Apesar de achar que os critérios para o avanço e recuo dos ponteiros (sim, porque neste caso o tempo pode voltar para trás) serão, no mínimo, discutíveis, o movimento dos ponteiros ao longo dos anos é curioso. Aparentemente, aquando da criação do relógio já nos encontrávamos a menos de 10 minutos do Fim. Ainda que os sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki pudessem ter uma perspectiva diferente, na primeira aparição do relógio, na capa da revista da organização, em 1947, o mostrador indicava que faltavam 7 minutos para a destruição total. Este período tempo foi dramaticamente encurtado para 3 minutos quando, em 1949, a União Soviética levou a cabo os seus primeiros testes nucleares. Em 1953, a situação agravou-se ainda mais com os primeiros testes de bombas de hidrogénio, tanto do lado dos americanos como do dos soviéticos. A situação foi considerada de tal forma preocupante que o ponteiro avançou mais um minuto.

Nas décadas seguintes, apesar de alguns altos e baixos, a situação melhorou, pois pareceu tornar-se evidente que os Estados Unidos e a União Soviética não pretendiam envolver-se num confronto directo. Atingiu-se um pico de 12 minutos para a meia-noite, em 1972, após a assinatura de alguns importantes tratados, como o Tratado da Não Proliferação Nuclear (1969), o Tratado Anti Mísseis Balísticos e o Tratado de Limitação de Armas Estratégicas (ambos em 1972).

Em 1981, a invasão soviética do Afeganistão, seguida da polémica nos Jogos Olímpicos de Moscovo, veio despoletar um novo avanço dos ponteiros, que chegaram aos quatro minutos. No entanto, nesta altura ainda não se sabia que o agudizar da situação seria precedido pelo período de maior optimismo e esperança da história deste relógio. Com a queda do muro de Berlim e o desmoronamento do bloco soviético, os guardiães do tempo sentiram-se de tal forma confiantes no futuro que, em 1991, os ponteiros regrediram para um máximo histórico de 17 minutos para a meia-noite.

Porém, nos últimos tempos a situação parece ter piorado novamente. Os problemas entre a Índia e o Paquistão, os ataques terroristas e, mais recentemente, os testes realizados pelo Irão e pela Coreia do Norte levaram a que os ponteiros tenham voltado a avançar, até aos actuais cinco minutos para a meia-noite.

Talvez por não partilhar desta visão apocalíptica e determinística da evolução da Humanidade é que fiquei surpreendida por ver aquelas horas. Sem dúvida que a metáfora do relógio é apelativa e acho que serve inteiramente os propósitos dos seus criadores. Ainda assim, há uma questão que me parece que eles não ponderaram devidamente: quem vai acertar o relógio para a meia-noite, no caso de essa hora chegar?

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