quinta-feira, dezembro 29, 2005
Contextualizando, alguns alunos americanos, provenientes de escolas religiosas, sentem-se discriminados quando se candidatam às universidades. As universidades defendem-se, dizendo que não é uma questão de discriminação mas sim de padrões de exigência elevados. No centro da discórdia estão os livros usados nas escolas religiosas, principalmente editados pela Bob Jones University Press, que, segundo a Universidade da Califórnia, não transmitem os conhecimentos geralmente aceites na comunidade científica e, como tal, não permitem aos alunos uma preparação adequada para a entrada na universidade.
Segue-se um excerto da introdução do livro "Biology for Christian Schools" da referida editora:
"The people who have prepared this book have tried consistently to put the Word of God first and science second. To the best of the author's knowledge, the conclusions drawn from observable facts that are presented in this book agree with the Scriptures. If a mistake has been made (which is probable since this book was prepared by humans) and at any point God's Word is not put first, the author apologises."
É caso para dizer: "Cristo Rei, Aleluia!!!"
quarta-feira, novembro 23, 2005
domingo, novembro 06, 2005
“Gelaram todas as mãos cruzadas sobre todos os peitos…”. Eu fiquei extasiada com o brilho que tu irradiavas, com o quente perfume a música que me aconchegava no frio da noite. “Murcharam mais flores do que as que havia no jardim…”. E ali estávamos nós, suspensos num momento. Tu avançaste na minha direcção. Ah, tanto que eu queria ter dito… Mas não. Nada consegui dizer. “O meu amar-te é uma catedral de silêncios eleitos,”. Catedral de silêncios eleitos. Catedral de silêncios. Silêncios! Silêncios… Sem conseguir articular uma frase, por mais estúpida que fosse, quebrei o momento com um gesto brusco.
Tu, enlaçado no meu sono, foste embora, para longe. Eu fiquei ali, à porta. “E os meus sonhos uma escada sem princípio mas com fim”[1]. Os olhos pesavam cada vez mais, mas os versos estalavam-me nos ouvidos, como o repicar dos sinos. O momento perdeu-se para sempre e foi sob o manto escuro e frio do silêncio que finalmente me deixei envolver, cansada de nada ter dito.
[1] Hora Absurda, Fernando Pessoa.
domingo, agosto 21, 2005
sábado, agosto 13, 2005
Antigamente, o fenómeno parecia estar circunscrito aos rafeiros ou de raça indefinida. Actualmente, nem as elites (entenda-se, os de raça pura) escapam. É verdade, chega o mês das férias e o número de animais abandonados dispara em flecha.
Nos dias de hoje, já existem várias soluções para o problema de arranjar alguém a quem confiar o seu animal de estimação durante o tempo das férias, que passam por pedir a algum conhecido que cuide do seu animal, recorrer aos estabelecimentos especializados neste tipo de serviços, ou ainda participar nos programas de intercâmbio de animais, que têm sido organizados cada vez com mais sucesso (por exemplo, a Câmara Municipal de Lisboa e a Liga Protectora dos Animais organizam este ano um programa com estas características).
Por isso, não invente mais desculpas esfarrapadas para abandonar aquele que, sem dúvida alguma, é um dos seus melhores amigos. Não abandone o seu animal de estimação!
domingo, julho 31, 2005
* Devo salientar que a qualidade do leitão, do melhor que eu tenho comido, do "Pedro dos Leitões", tem a sua responsabilidade neste desconforto.
domingo, julho 24, 2005
Confesso que fiquei boquiaberta quando li esta notícia. Este episódio, verdadeiramente lamentável (lamentável por si próprio, mas também por aquilo que deixava antever), não faz parte da história que nos é contada nos livros da escola. A existência deste último auto-de-fé (será?) em Portugal mostra como existem certos aspectos da vivência humana que insistem em eternizarem-se, repetindo-se, sem que as lições do passado seja aprendidas...
segunda-feira, julho 18, 2005
P.S: Quem quiser festa rija...
domingo, julho 10, 2005
Quando estava descontraidamente a fazer uma contas, num guardanapo de pastelaria, para ter uma ideia concreta do valor da probabilidade de sair a alguém o jackpot do Euromilhões, fui interrompida por uma questão colocada por uns olhos dardejantes:
- Está a fazer contas?
Ao que eu respondi que sim e expliquei o objectivo das mesmas. Mal tinha terminado a minha explicação, que não foi demasiado detalhada, por antecipar falta de compreensão do meu interlocutor, já ele me dizia, categoricamente, que eu estava completamente errada! Alguém, que eu não percebi quem, já lhe tinha explicado que "isso estava relacionado com os 76 milhões de pessoas que jogam".
Perante isto, a única coisa que se pode fazer é não insistir...
Imaginei, rapidamente, o trabalho meticuloso de, uma por uma, colocar as pedras, ora brancas, ora azuis, com a exacta distância para que, quando o passo firme e apressado de uns sapatos de senhora se atravessassem no seu caminho, pudesse, com precisão, qual dentista de alicate em punho, prender a capa que terminava o salto. ´
Toca numa banda, parece. Nunca vi. Nunca ouvi. Confesso mesmo que pensava que aquele senhor (cujo nome está, orgulhosamente, gravado na dianteira do avental de couro, mas que, neste instante, não me vem à memória) ficava ali, parado, mesmo de noite, naquele quadro de sapatos emaranhados, emoldurado pela pequena porta de madeira, sempre aberta.
"Adeus e obrigada!". "Adeus! E que se estraguem depressa!".
domingo, julho 03, 2005
segunda-feira, junho 27, 2005
“Dizem?
Esquecem.
Não dizem?
Dissessem.
Fazem?
Fatal.
Não fazem?
Igual.
Por quê
Esperar?
−Tudo é
Sonhar.”
Fernando Pessoa (1926) em “Fernando Pessoa, poesias escolhidas por Eugénio de Andrade”, Campo das Letras.
domingo, junho 26, 2005
Assim, pelo acaso do destino (e pela vontade do sr. Fernando, que tenta gerir da forma mais eficiente possível os parcos lugares sentados do seu café-restaurante) enquanto saboreámos um almoço rápido, que a fome transformara num verdadeiro manjar dos deuses, fomos convidados a a entrar na sua vida, tão repleta e colorida quanto uma vida de 83 anos pode ser.
A simpatia era natural e a vontade de conversar mais do que muita. Mas o que mais me chamou à atenção e me cativou quase instantaneamente foi a forma delicada e cautelosa como iniciou e deu continuidade à conversa. A viuvez, a antiga profissão, as dores nos ossos, a paixão de menina pelos chocolates - retratos instantâneos de uma vida cheia de "estórias" para contar foram generosamente partilhados connosco.
No fim do almoço, na hora da despedida inevitável, com um sorriso rejuvenescido e palpitante, despediu-se de nós desejando "que corra tudo bem" e, inesperadamente, revelando uma extrema (e, talvez, amarga) lucidez, agradeceu-nos a nossa companhia. Ela, que, generosamente, tinha acedido a que partilhássemos a sua mesa, agradecia-nos a nossa companhia!
Como a solidão me assusta...
Cara AG,
Depois de ter tomado consciência da forma como o poema que citei anteriormente afectou negativamente o seu estado de espírito (agravado pelo facto de a acção ter tomado lugar numa segunda-feira - dia nefasto, não por ser o início da semana de trabalho, mas por implicar o fim da proximidade com a "luz dos seus olhos"), espero conseguir redimir-me com este novo poema.
"É, só eu sei
Quanto amor eu guardei
Sem saber que era só
Pra você
É, só tinha de ser com você
Havia de ser pra você
Senão era mais uma dor
Senão não seria o amor
Aquele que a gente não vê
Amor que chegou para dar
O que ninguém deu pra você
Amor que chegou para dar
O que ninguém deu
É, você que é feito de azul
Me deixa morar nesse azul
Me deixa encontrar minha paz
Você que é bonito demais
Se ao menos pudesse saber
Que eu sempre fui só de você
Você sempre foi só de mim.»
Antonio Carlos Jobim / Aloysio de Oliveira
sexta-feira, junho 10, 2005
«Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face
Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio
Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente»
Sophia de Mello Breyner Andersen, Livro Sexto
terça-feira, junho 07, 2005
Será mesmo vã?
"Querer controlar o tempo é muito mais do que uma vã pretensão". Cara Clara, como nos iludem os sentidos! Pensemos nos dois gémeos que se separam: um permanece na Terra, o outro viaja no espaço à velocidade da luz (ou perto dela). Quando regressar da sua viagem, o segundo gémeo será muito mais novo que o seu irmão. Não se trata, precisamente, de controlar o tempo? De lhe retirar, ao tempo, toda a solidez com que o encaramos? De prender irremediavelmente a noção de tempo à noção de espaço?
De resto, não posso deixar de aplaudir os pensamentos da Clara. Se me é permitido acrescentaria apenas que a elevação, intelectual ou física, leva sempre a um ganho de tempo. No primeiro caso pelas razões óbvias; no segundo porque, efectivamente, os relógios avançam mais lentamente a maiores altitudes. Sugiro um bom livro, o mais longe possível da Terra.