domingo, junho 26, 2005

Os seus olhos azuis - faíscaram num misto de curiosidade e ansiedade. "Sentem-se aqui ao pé desta senhora que ela não se importa, pois não?", perguntou retoricamente o empregado de mesa, num tom gentil mas autoritário, de quem nem sequer pensou na possiblidade de receber uma resposta contrária ao seu desejo de sentar mais uns clientes.

Assim, pelo acaso do destino (e pela vontade do sr. Fernando, que tenta gerir da forma mais eficiente possível os parcos lugares sentados do seu café-restaurante) enquanto saboreámos um almoço rápido, que a fome transformara num verdadeiro manjar dos deuses, fomos convidados a a entrar na sua vida, tão repleta e colorida quanto uma vida de 83 anos pode ser.

A simpatia era natural e a vontade de conversar mais do que muita. Mas o que mais me chamou à atenção e me cativou quase instantaneamente foi a forma delicada e cautelosa como iniciou e deu continuidade à conversa. A viuvez, a antiga profissão, as dores nos ossos, a paixão de menina pelos chocolates - retratos instantâneos de uma vida cheia de "estórias" para contar foram generosamente partilhados connosco.

No fim do almoço, na hora da despedida inevitável, com um sorriso rejuvenescido e palpitante, despediu-se de nós desejando "que corra tudo bem" e, inesperadamente, revelando uma extrema (e, talvez, amarga) lucidez, agradeceu-nos a nossa companhia. Ela, que, generosamente, tinha acedido a que partilhássemos a sua mesa, agradecia-nos a nossa companhia!

Como a solidão me assusta...

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