terça-feira, abril 29, 2008
terça-feira, abril 08, 2008
O Domar da Harpa
“Certa vez, em tempos idos, na Ravina de Lungmen havia uma árvore Kiri, verdadeira rainha da floresta. Erguia a cabeça para conversar com as estrelas; as raízes desciam fundo no solo, emaranhando as suas serpentinas brônzeas nas do dragão prateado que dormia por baixo. E aconteceu que um mago poderoso fez desta árvore uma harpa maravilhosa, cujo espírito obstinado havia de ser domado apenas pelo maior dos músicos. Durante muito tempo o instrumento foi estimado pelo imperadores da China, mas foram em vão todos os esforços dos que, à vez, tentaram extrair melodias daquelas cordas. Em resposta às melhores tentativas soltavam-se da harpa apenas notas roufenhas de desprezo, em desarmonia com as canções que eles gostariam de cantar. A harpa recusava reconhecer um mestre.
Por fim chegou Peiwoh, o príncipe dos harpistas. Com a mão meiga acariciou a harpa, como quem tentasse acalmar um cavalo obstinado, e tocou suavemente as suas cordas. Cantou a natureza, as estações, montanhas altaneiras e águas correntes, e todas as memórias da árvore despertaram! O doce sopro da primavera tornou a brincar nos seus ramos. As jovens cataratas, dançando pela ravina, riram-se para as flores em botão. Em seguida escutaram-se as vozes sonhadoras do Verão, com a sua miríade de insectos, o gentil tamborilar da chuva, o grito do cuco. Escutai! ruge um tigre – o vale volta a responder. É Outono; na noite deserta, afiada como uma espada brilha a lua sobre a erva molhada de geada. Agora reina o Inverno, e pelo ar cheio de neve redemoinham flocos de cisnes, e pedras de granizo ruidosas fustigam os troncos numa delícia feroz.
Então Peiwoh mudou de tom e cantou o amor. A floresta balançou como um mancebo ardente embrenhado em pensamentos. Lá alto, qual donzela altiva correu uma nuvem reluzente e linda; passageiras apenas, longas sombras rastejaram pelo solo, negras como o desespero. De novo o tom mudou; Peiwoh cantou a guerra, o embater do aço e os corcéis em tropel. E na harpa cresceu a tempestade de Lugmen, o dragão cavalgando o corisco, a avalanche tempestuosa embatendo pelos montes. Em êxtase, o monarca celeste questionou Peiwoh quanto ao segredo desta vitória. «Senhor,» replicou ele, «outros falharam porque apenas se cantaram a si próprios. Eu deixei que a harpa escolhesse o seu tema, e não soube verdadeiramente se a harpa era Peiwoh, ou se Peiwoh foi a harpa.»”
in O Livro do Chá, Kakuzo Okakura
Por fim chegou Peiwoh, o príncipe dos harpistas. Com a mão meiga acariciou a harpa, como quem tentasse acalmar um cavalo obstinado, e tocou suavemente as suas cordas. Cantou a natureza, as estações, montanhas altaneiras e águas correntes, e todas as memórias da árvore despertaram! O doce sopro da primavera tornou a brincar nos seus ramos. As jovens cataratas, dançando pela ravina, riram-se para as flores em botão. Em seguida escutaram-se as vozes sonhadoras do Verão, com a sua miríade de insectos, o gentil tamborilar da chuva, o grito do cuco. Escutai! ruge um tigre – o vale volta a responder. É Outono; na noite deserta, afiada como uma espada brilha a lua sobre a erva molhada de geada. Agora reina o Inverno, e pelo ar cheio de neve redemoinham flocos de cisnes, e pedras de granizo ruidosas fustigam os troncos numa delícia feroz.
Então Peiwoh mudou de tom e cantou o amor. A floresta balançou como um mancebo ardente embrenhado em pensamentos. Lá alto, qual donzela altiva correu uma nuvem reluzente e linda; passageiras apenas, longas sombras rastejaram pelo solo, negras como o desespero. De novo o tom mudou; Peiwoh cantou a guerra, o embater do aço e os corcéis em tropel. E na harpa cresceu a tempestade de Lugmen, o dragão cavalgando o corisco, a avalanche tempestuosa embatendo pelos montes. Em êxtase, o monarca celeste questionou Peiwoh quanto ao segredo desta vitória. «Senhor,» replicou ele, «outros falharam porque apenas se cantaram a si próprios. Eu deixei que a harpa escolhesse o seu tema, e não soube verdadeiramente se a harpa era Peiwoh, ou se Peiwoh foi a harpa.»”
in O Livro do Chá, Kakuzo Okakura
segunda-feira, abril 07, 2008
I know, it’s only rock ‘n’ roll but I like it
Nem sempre os títulos são um espelho da obra. “Se numa noite de Inverno um viajante” só poderia ser um título de um bom livro. Mas Rock ‘n’ roll parece-me ser um título bastante hermético para uma peça, apesar de a posteriori fazer todo o sentido.
A forma de abordar o tema é original, a cenografia e a escolha musical são excelentes. Os desempenhos do Rui Mendes e da Beatriz Batarda fazem jus à reputação que os precede. Apenas acho que o “Jan” merecia um actor a sério…
P.S.: Peço desculpa, mas não consegui encontrar a versão original...
A forma de abordar o tema é original, a cenografia e a escolha musical são excelentes. Os desempenhos do Rui Mendes e da Beatriz Batarda fazem jus à reputação que os precede. Apenas acho que o “Jan” merecia um actor a sério…
P.S.: Peço desculpa, mas não consegui encontrar a versão original...
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