segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Fininha e alta

Olhe, foi há coisa de seis, sete anos, que isto agora está tudo diferente. Agora a inspecção já não é assim. Mas, dizia-lhe, há seis, sete anos passei ali na junta de freguesia para ver os editais e vi qual é que era o dia. Eu trabalhava, nessa altura, pois trabalhava, mas tinha tempo livre, sim, tinha tempo livre. E então fui, que eu gostava muito dessas coisas. Fui e pus-me ali, do outro lado da rua, a apreciar o espectáculo. Que eu gostava muito daquelas coisas. Então pus-me ali, de mãos atrás das costas, com o jornal assim

o saco de plástico que trazia na mão era um jornal dobrado em quatro

debaixo do braço, armado em papo seco. Eram mais de quatrocentos mancebos. Quatrocentos, menina. E eu ali, do outro lado da rua, a apreciar o espectáculo. Ocupavam a rua toda, trânsito parado e tudo. Trânsito parado. Pois, então eles eram mais de quatrocentos! Olhe, veio de lá uma menina fininha, fininha, muito fininha. Alta. Metro e setenta e cinco. Fininha

passava a mão no saco enrolado, muito enrolado, muito fininho

e eu estava ali, do outro lado da rua, jornal debaixo do braço

o saco no lugar do jornal dobrado em quatro

armado em papo-seco. Então ela veio, fininha, com uns bracinhos assim, muito fininha e aproximou-se. Era muito fininha mas trazia as patentes. Tenente, menina, era tenente, não era uma coisa qualquer. Pois claro, tinha estudos, certamente. Aproximou-se e fez assim com o bracinho (só com um bracinho, o outro nem foi preciso mexer) nem foi preciso falar, fininha, fininha e alta, mais alta que eu. E, olhe menina, nasceu para aquilo. Encostaram-se todos à parede, mais de quatrocentos, que eu estou habituado a contar, sem gritos, sem uma palavra, só com o bracinho. Nasceu para aquilo, é o que é. Olhe menina, vou às compras.

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