domingo, julho 31, 2005

Acabei de marcar o meu código multibanco no micro-ondas, quando tentava aquecer o jantar. Não me parece que isto seja bom.
Há certas coisas para as quais já não tenho idade. Andar de carrossel é, certamente, uma delas. Ali estava eu, contigo, a única pessoa capaz de me convencer a entrar naquela frágil cabine, inspeccionando a segurança da barra de protecção, dos cabos de aço que nos sustinham, da trave que nos ligava ao engenho central. Deve ser a única coisa que não mudou, esta minha tentativa desesperada de garantir a nossa segurança. Isso, e a tua paciência infindável, para, repetidas vezes, proporcioniais ao tempo de espera, me mostrares que o cinto de segurança estava efectivamente bem preso e que não se ia soltar no momento do arranque do carrossel. Longos minutos de repedidas voltas, primeiro para a frente, depois para trás, e, finalmente, para a frente de novo. Tu rias a plenos pulmões, cada vez que a cabine nos deixava sem norte. Rias e rias e rias. Tanto que, apesar de todo o meu desconforto*, eu teria rido também, não fosse o facto de não conseguir emitir o mais pequeno som à velocidade que iamos. Depois, de volta ao chão, pude constatar que a terra deixou de ser firme e balouçava, ora para um lado, ora para o outro, durante toda a nossa caminhada. E assim permaneceu, largos minutos, horas.

* Devo salientar que a qualidade do leitão, do melhor que eu tenho comido, do "Pedro dos Leitões", tem a sua responsabilidade neste desconforto.
Errar da forma que tu o fazes, ou melhor, errar e assumi-lo da forma que tu o fazes, resume, num pequeno mas doloroso episódio, a tua essência encantadora: és tão racional quanto uma pessoa deve procurar ser e tens de emocional aquilo a que a nossa natureza nos obriga. Talvez um pouco mais. E este lado emocional é o tanto que basta porque é verdadeiro, gota a gota. É por estas duas razões (o teu eu aos meus olhos) que partilhar contigo esta amizade curta mas interminável é uma riqueza inigualável.

domingo, julho 24, 2005

O verdadeiro génio é aquele - que não tem limites. Que consegue transformar as fraquezas em forças, que vence as adversidades, para as tornar em grandes feitos, faça sol ou faça chuva... Que tendo consciência das suas excepcionais capacidades, não tropeça na soberba. Que convida os outros a participar nos seus feitos, partilhando e multiplicando a alegria por todos. Enfim, que dizer... Donington Park, 15h00, ceú muito nublado, chuva intensa e um espectáculo memorável, impróprio para cardíacos!
Depois de alguma espera na fila - finalmente, o tão desejado pedido:

- O que é que vai ser?
- Pêssego e meloa, se faz favor.
- Disse moka?
- Sim, meloa.
- Com certeza, pêssego e moka.

Foi graças aos pequenos desvios ao livre arbítrio que eu descobri que gelado de moka é absolutamente delicioso.
"Estes livros salvaram-se de ser queimados" - é um dos títulos em destaque na capa do Público deste Domingo. À semelhança do Index e dos líderes nazis, também o Ministério da Educação e da Cultura português, em 1974, mandou destruir os livros de "índole fascista".

Confesso que fiquei boquiaberta quando li esta notícia. Este episódio, verdadeiramente lamentável (lamentável por si próprio, mas também por aquilo que deixava antever), não faz parte da história que nos é contada nos livros da escola. A existência deste último auto-de-fé (será?) em Portugal mostra como existem certos aspectos da vivência humana que insistem em eternizarem-se, repetindo-se, sem que as lições do passado seja aprendidas...

segunda-feira, julho 18, 2005

Este foi um daqueles fins-de-semana de barriga cheia e pouco sono. Dos bons. Numa daquelas terras com nome curioso (escolhi como certo o relato de que "certo Rei, aquando das guerras com Castela, se refugiou numa quinta ali existente e se viu em apuros com o inimigo. Posteriormente terá afirmado que ali se vira em “palpos de aranhas” e assim foi cognominado o lugar": Aranhas), em que os sinos assinalam as horas e as meias horas, em que a agitação na rua começa às cinco da manhã, em que os estabelecimento comerciais se contam com os dedos de duas mãos e em que bem receber é sinónimo de bem comer. Ai, os queijos, os queijos!

P.S: Quem quiser festa rija...

domingo, julho 10, 2005

Quem não sabe é como quem não vê - lá diz o ditado popular com muita razão. Porém, existe muita gente que não sabe mas, por incrível que possa parecer, acha que vê e vê melhor e mais longe do que os outros, aqueles que efectivamente sabem. Em portugês corrente, estas personagens são apelidadas de "chicos-espertos". Infelizmente, esta espécie não está em risco de extinção e não está restrita a nenhum habitat pefeitamente circunscrito. Antes pelo contrário, expande-se ao ritmo da pragas de gafanhotos e ocupa qualquer território indiscriminadamente.

Quando estava descontraidamente a fazer uma contas, num guardanapo de pastelaria, para ter uma ideia concreta do valor da probabilidade de sair a alguém o jackpot do Euromilhões, fui interrompida por uma questão colocada por uns olhos dardejantes:
- Está a fazer contas?
Ao que eu respondi que sim e expliquei o objectivo das mesmas. Mal tinha terminado a minha explicação, que não foi demasiado detalhada, por antecipar falta de compreensão do meu interlocutor, já ele me dizia, categoricamente, que eu estava completamente errada! Alguém, que eu não percebi quem, já lhe tinha explicado que "isso estava relacionado com os 76 milhões de pessoas que jogam".

Perante isto, a única coisa que se pode fazer é não insistir...
"As pedras da calçada" - afiançou-nos - "fui eu que as mandei pôr".

Imaginei, rapidamente, o trabalho meticuloso de, uma por uma, colocar as pedras, ora brancas, ora azuis, com a exacta distância para que, quando o passo firme e apressado de uns sapatos de senhora se atravessassem no seu caminho, pudesse, com precisão, qual dentista de alicate em punho, prender a capa que terminava o salto. ´

Toca numa banda, parece. Nunca vi. Nunca ouvi. Confesso mesmo que pensava que aquele senhor (cujo nome está, orgulhosamente, gravado na dianteira do avental de couro, mas que, neste instante, não me vem à memória) ficava ali, parado, mesmo de noite, naquele quadro de sapatos emaranhados, emoldurado pela pequena porta de madeira, sempre aberta.

"Adeus e obrigada!". "Adeus! E que se estraguem depressa!".

domingo, julho 03, 2005

Adriana Partimpim, 2 de Julho, 21.30 (22.05 para ser exacta. Às 21.30 ainda havia muita gente que, calmamente, procurava entrar. E às 21.40, e às 21.50 e às 22.00 e às...), castelo de Montemor-o-Velho. Um concerto delicioso, onde "quase tudo o que faz barulho" teve lugar: brinquedos, relógios de corda, sacos de plástico, água, pratos e colheres de sopa... E muitas histórias de gatos.