O tempo - é relativo. Não só relativo mas volúvel, inexorável, imparável e irreversível. Querer controlar o tempo é muito mais do que uma vã pretensão - é tantalizar a vida, infligindo um suplício eterno e sempre renovado a todos aqueles que o tentarem, pois certamente sairão derrotados desta refrega. Por mais que tentemos segurar uma porção de água na mão, gota a gota ela vai, inevitavelmente, fugindo.
O tempo foge! O tempo foge? Ou nós fugimos do tempo (pelo menos, do tempo que verdadeiramente interessa)? Dada a sua natureza intangível e impiedosa, por vezes parece que não é o tempo que passa por nós, mas nós que passamos pelo tempo. Pior ainda, passamos pela auto-estrada do tempo, sem portagens, sem respeitar o limite de velocidade e perdendo a oportunidade de calcorrear todos os lugarejos verdadeiramente interessantes e pitorescos, por onde serpenteiam as suas estradas nacionais.
Corremos afincada e estoicamente, adiando todos os potenciais desvios, para chegarmos o mais rapidamente ao tão famigerado destino. Aí, pensamos, já não vamos correr e então teremos tempo! Tempo para tudo o que sempre desejámos fazer, mas fomos adiando e sacrificando durante a viagem, com a desculpa de que não queríamos perder (o) tempo (tudo isto se torna mais cómico quando nos apercebemos que vivemos rodeados de miríades de aparelhos e instrumentos, cuja principal função é pouparem-nos tempo...). Enfim, tempo para verdadeiras viagens e não para contra-relógios.
Mas, e se esse tempo nunca chegar? Será que devemos fazer a viagem? Claro que sim!! A viagem, essa, vale sempre a pena. Aquilo que faz a diferença é a forma como nos comportamos como viajantes. Como disse Sebastião da Gama:
«Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.»
E somos mais e melhor quando ganhamos (e não, perdemos, como muitos julgam) tempo ao observar a forma como os raios de sol rasgam as nuvens no fim de uma tarde de Verão. Ganhamos tempo ao trocar um olhar, ao partilhar um sorriso e ao saborear uma boa conversa. Ganhamos tempo a ler um livro, a conquistar um objectivo, a lutar por uma ideia. Ganhamos tempo não a correr contra ele, mas sabendo apreciar a sua suave e doce cadência que nos permite estar sempre e simultaneamente no fim e a meio do caminho.
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