segunda-feira, junho 27, 2005

O que me chamou a atenção foi a mesinha, à direita da entrada, com vários livros empilhados e, ao centro, em letras gordas, o cartaz dizendo "Eugénio de Andrade (1923-2005)". Eram livrinhos pequenos, gastos, capas telegráficas. Peguei, um por um, e folheei, cuidadosamente. Mas o livro que haveria de comprar ainda não se tinha, nessa altura, desvendado. Escondido por um outro, encontrei, largos minutos passados, um livro de capa branca interrompida pelo retrato a preto: os óculos, o bigode, o chapéu. Fernando Pessoa – poesias escolhidas por Eugénio de Andrade. Li, ali mesmo, uma porção de poemas e mais tarde no carro e mais tarde ainda em casa, finalmente em casa, partilhámos, ao acaso, versos soltos, primeiro, na pressa de descobrir, poemas completos, depois. Pessoa é, para mim, arrebatador, cru, denso. Espero apenas que não se afaste de mim como se afastou de Eugénio de Andrade, “de maneira discreta, como era a sua”. É, na verdade, um prazer imenso poder desfrutá-lo.

“Dizem?
Esquecem.
Não dizem?
Dissessem.

Fazem?
Fatal.
Não fazem?
Igual.

Por quê
Esperar?
−Tudo é
Sonhar.”

Fernando Pessoa (1926) em “Fernando Pessoa, poesias escolhidas por Eugénio de Andrade”, Campo das Letras.

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