domingo, dezembro 03, 2006

Elegia fúnebre

Mágica

É uma estrada no céu silenciosa
Um anão sem ninguém que o suspeite
É um braço pregado a uma rosa
Um mamilo escorrendo leite

São edénicos anjos expulsos
Sonhando quietude e distância
São homens marcados nos pulsos
É uma secreta elegância

São velhos demónios ociosos
Fitando o céu bailando ao vento
São gritos rápidos, nervosos
Que destroem todo o pensamento

É o frio deserto marinho
Operando na escuridão
É o corpo que geme sozinho
É a veia que é coração

São aranhas jovens, pernaltas
Arrastando embrulhos para o mar
São altas colunas tão altas
Que o chão ameaça estalar

São espadas voantes são vielas
Passeios de todos e nenhuns
São grandes rectas paralelas
São grandes silêncios comuns

É uma edição reduzida
Das aras da história sagrada
É a técnica mais proibida
Da mágica mais procurada

É uma estrada no céu silenciosa
Por um domingo extenso e plácido
É um anoitecer cor-de-rosa
Um ar inocente, ácido

in Manual de Prestidigitação, Mário Cesariny

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