segunda-feira, outubro 16, 2006

"Sra. da Bilheteira, qual é o preço do meu bilhete?"

Aos Srs. Barricados que exigem que «o teatro não seja gerido e programado em função da maior ou menor rentabilidade» que estão neste momento dentro do Rivoli, a quaisquer outros Srs. Barricados que usem o mesmo tipo de argumentação e, por fim, a quaisquer outros Srs. Não Barricados mas ainda assim Srs. Que Usam o Mesmo Tipo de Argumentação:

Mas por que raio tem o teatro de ser subsidiado? O que leva os Srs. Barricados em geral que usam o tipo de argumentação supracitada e os Srs. Barricados no Rivoli em particular (e, claro, os Srs. Que Usam o Mesmo Tipo de Argumentação) a pensar que, do alto da sua cultura, têm a obrigação moral de obrigar o contribuinte a pagar as suas peças e, talvez pior, a assistir a essas mesmas peças? Se a peça não é rentável é porque o público não a quer ver ou não a valoriza ao ponto de pagar o preço do bilhete. Subsidiar o teatro mesmo que para descer os preços dos bilhetes é, no mínimo, um embuste - pode levar mais público (?) às ditas peças de "elevado interesse público" mas apenas enganando o pobre elemento do público que, informado à priori do verdadeiro custo do seu bilhete (valor pago pelo bilhete + subsídio atribuído à peça/nº de pessoas no público), rejeitaria imediatamente o projecto. Diria eu, se fosse actriz/produtora/encenadora/coreógrafa, que o meu trabalho era para o público. Não o vou dizer, porém, porque quis o destino que eu fosse economista* (e brilhante, diga-se).

* Já estou a ouvir os "aha!" dos Srs. Barricados em geral que usam o tipo de argumentação supracitada e os Srs. Barricados no Rivoli em particular (e, claro, os Srs. Que Usam o Mesmo Tipo de Argumentação). "Claro" - dizem em uníssono - "só podia".

12 comentários:

Anónimo disse...

Escreves bem. As ideias é que já são outra história.

Anónimo disse...

Porque se fosse o contribuinte a decidir o que é que o Estado subsídia ou deixa de subsídiar, certamente teriamos menos economistas, e mais futebolistas, actores de novelas e "boys bands".

Anónimo disse...

Caro anónimo,

Não defendo que seja o contribuinte a decidir. Defendo, sim, que se comparem custos e benefícios. E não me refiro apenas a custos e benefícios pecuniários. No caso em questão, não me parece que o benefício (na maioria das vezes restrito aos subsidiados - um benefício privado, portanto, e muito concentrado)supere o custo (o pecuniário e o de oportunidade).

De resto, não me parece que, mesmo chamado a escolher, o contrinuinte fizesse as escolhas que enumeras.

Anónimo disse...

O que eu quero dizer é que, se o Estado financia cursos superiores de economia, por exemplo, é porque assume que é importante para o desenvolvimento do país ter licenciados em economia.

Da mesma forma a arte e a cultura são essenciais a qualquer país que se quer minimamente civilizado. Se a unica forma de se conseguir fazer arte é recorrendo a subsidios, então seja.

Não acho que os meus impostos sejam mais mal gastos a subsidiar teatro, do que a subsidiar o teu curso superior.

Anónimo disse...

Estamos de acordo na tua última frase, mas provavelmente não pelas mesmas razões. Também no caso dos cursos superiores, eu acho que o benefício é maioritariamente privado - note-se que não digo que o benefício público é negligenciável; é óbvio que é significativo e contribui determinantemente para o desenvolvimento de que falas mas é, em termos relativos, inferior ao benefício privado*. Logo, deveria ser cada licenciado a suportar em larga medida o custo do seu curso. Repara que digo licenciado e não estudante, porque o pagamento deveria ser ex-post, isto é, assim que entre para o mercado de trabalho, garantindo igualdade de oportunidades ex-ante. Seria muito mais justo que o sistema actual, uma vez que, hoje, os que não ingressam na faculdade por falta de recursos (o sistema de bolsas deixa muito a desejar) financiam o curso de todos aqueles que ingressam.

*Pense-se, por oposição, no exemplo da escola primária. Nesse caso, o benefício é (quase) totalmente público, pelo que deve ser financiado por dinheiros públicos.

Anónimo disse...

Pois, mas pelo teu ponto de vista - que eu não partilho - as coisas ainda me parecem piores. Porque temos o Estado a financiar cursos a que só deixa ter acesso um punhado de pessoas.

Ao menos no Teatro todos podem entrar. Se preferem ficar em casa a ver as floribelas e os morangos, ou o futebol, é outra história. O Estado deve promover a cultura mas não pode obrigar as pessoas a interessar-se. A mediocridade é um inimigo poderoso.

PS. Fico a aguardar uma entrada no teu blog a desancar no financiamento do ensino superior pelo Estado.

Anónimo disse...

Não leste o que escrevi. O que eu disse - e repito - é que o Estado deve emprestar (com 5 anos de carência) e não subsidiar a fundo perdido. E, novamente como já disse, isso não diminuiria o leque de potenciais licenciados. Tornaria, isso sim, o actual sistema, que é injusto para os que têm menos recursos, mais justo. E, já agora, com todo o dinheiro que pouparia, poderia contratar uma empresa de consultoria que tornasse mais eficiente e equitativo o sistema de bolsas.

Anónimo disse...

Contratar uma "empresa de consultoria" para fazer algo que deviam ser os proprios serviços do Estado a fazer, já não é usar o dinheiro dos contribuintes para beneficiar interesses privados ?

Anónimo disse...

O Estado não deve fazer o que não faça melhor que os privados. Caso contrário, estamos a lesar o tão citado contribuinte.

Anónimo disse...

É só disparates. Como se já não bastasse a visão provinciana da cultura, agora temos que levar com excertos da cartilha neoliberal. E depois ainda tens a mania que és uma economista "brilhante". É que mesmo que venhas a ser (por este caminho, duvido) esse genero de conversa só te fica mal.

Anónimo disse...

Excelentes argumentos, os teus.

Anónimo disse...

Obrigado.