Na sequência de qualquer acidente fora de portas, recebemos sempre a informação - fundamental, parece - do número de portugueses envolvidos ou, à falta de melhor, pessoas cujos sobrinhos são (ou foram, também dá) casados com pessoas que têm colegas de trabalho que conhecem pessoas que passaram férias em Portugal em Agosto de 82.
Nunca percebo o objectivo. É tornar mais triste a notícia? Devemos sentir-nos pior quando há portugueses envolvidos, tão anónimos para nós como todos os outros? A questão é apenas uma questão de fronteiras da moralidade, ou, melhor, da ausência dessas fronteiras. O que sentimos ao ouvir o relato de uma tragédia deve variar de país para país? Apenas podendo salvar um, que avião escolheríamos - um com dez portugueses ou um com dez neo-zelandeses? Um acidente em Badajoz deve causar-nos menos pesar do que um em Elvas?
domingo, outubro 01, 2006
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6 comentários:
A regra da proximidade , seja ela de carácter físico, cultural ou qualquer outro tipo de afinidade, é o pão nosso do jornalismo (a par de outras como a intensidade do fenómeno). Mas resulta. Um exemplo que pode parecer descabido mas que me atrevo a dizer que até nem é: quando olho para aquelas secções estilo jornal regional, que têm sempre o nome das terras no início em bold (lá está, a proximidade), normalmente só presto atenção àquilo que conheço; se aparecer uma caixinha com Freixo de Espada à Cinta nem acabo de ler o título.
O mesmo se aplica a essas catástrofes. É uma reacção natural. Caiu um boeing da Gol na floresta amazónica: difícil apanhar os destroços e... zzzzz. Caiu um monolugar ao largo da Boca do Inferno: Morreu alguém...?
Mas é estúpido, percebo a crítica. Achei piada quando houve o golpe de estado na Tailândia e vi uma notícia cujo título era "Mariza apanhada em golpe de estado" porque, aparentemente, a tipa estava de férias lá. Obviamente, um golpe de estado é secundário quando comparado com as férias estragadas da fadista.
No limite, deve ser a isto que chamam marketing.
Eu vejo as coisas de um modo mais prático, mais simples, mais terra-a-terra:
a televisão portuguesa é vista por portugueses - logo é mais importante dar notícia sobre vítimas portuguesas do que outras vítimas. É uma informação que se presta às famílias, conhecidos, etc. das vítimas.
Achas então que o objectivo da televisão é informar? Os noticiários de todos os canais não são mais do que versões soft do Jornal Nacional da TVI. E se esse é o objectivo, porque não dizer o nome da pessoa? Não vais dizer que é para proteger a privacidade, dado que a lista com os nomes completos está em qualquer site que se digne da internet. Aliás, dizer que há um português só alarma todas as pessoas com familiares no Brasil - em vez de ajudar, faz o contrário.
Mas eles dizem o nome, logo que sabem... E o objectivo principal do telejornal é informar.
Dizem? Não ouvi nem uma vez. Se calhar eu consulto uns sites a que eles não têm acesso.
é=devia ser?
Então se até foram a casa da família...
Não é, mas devia ser.
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