«Apertas o cinto. O avião está a aterrar. Voar é o contrário de viajar: atravessas uma descontinuidade do espaço, desapareces no vácuo, aceitas não estar em parte nenhuma durante uns momentos que são também uma espécie de vácuo no tempo; depois reapareces, num lugar e num instante sem relação com o onde e com o quando em que tinhas desaparecido. Entretanto o que fazes? Como ocupas esta tua ausência em relação ao mundo e do mundo em relação a ti? Lês; não despegas o olho do livro entre um aeroporto e o outro, porque para além da página está o vácuo, o anonimato das escalas aéreas, do útero metálico que te contém e te nutre, da multidão passageira sempre diferente e sempre igual.»
in Se numa noite de Inverno um viajante de Italo Calvino.
terça-feira, outubro 09, 2007
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